O DILEMA DO SCRUMMASTER
http://blog.adaptworks.com.br/en/2012/01/o-dilema-do-scrummaster/
· Não são poucas as
empresas e times de desenvolvimento que vem questionando o papel do
ScrumMaster. Precisamos realmente de um ScrumMaster? O que faz um ScrumMaster
se o time já sabe auto-organizar? E se não há impedimentos, o que ele deve
fazer? E se não uso mais Scrum, o que farei com o ScrumMaster? Neste post
pretendo discutir esses e outros pontos para tentar desmistificar o trabalho do
ScrumMaster.
Por que preciso de um ScrumMaster?
Se você revisitar o paper que
“oficialmente” deu origem ao Scrum (Scrum Development Process, Ken Schwaber, 1995) e procurar por
alguma referência ao papel de ScrumMaster não encontrará absolutamente nada!
Isso porque quando da “criação” do Scrum este papel simplesmente não existia.
Mas então por que ele foi criado? Essencialmente, porque Scrum é difícil de ser
colocado em prática, a resisência é muito grande, e foi percebido que se não
houvesse alguém realmente comprometido e dedicado a fazer isso acontencer, a
mudança não aconteceria.
Quais as principais dificuldades para
colocar Scrum na prática?
Segundo a edição mais recente da pesquisa “State of Agile Survey”,
organizada pela Version One,
58% das empresas que disseram usar Agile mencionaram Scrum como o método que
utiliza, e mais 17% citaram que usam Scrum e Extreme Programming (XP). Nesta
mesma pesquisa, quando perguntados sobre as principais barreiras para fazer
Agile funcionar, responderam:
·
[ 51% ] Habilidade
para mudar a cultura organizacional
·
[ 40% ] Resistência
geral a mudança
·
[ 40% ]
Disponibilidades das pessoas com as habilidades necessárias
·
[ 34% ] Suporte da
Gestão
·
[ 31% ] Complexidade
ou tamanho do projeto
·
[ 29% ] Colaboração
do Cliente
·
[ 21% ] Confiança na
habilidade para escalar Agile
·
[ 19% ] Tempo
percebido para transição
·
[ 13% ] Restrições
de orçamento
·
[ 12% ] Nenhum
·
[ 06% ] Outros
Bom, se sua empresa está decidida a
aplicar Scrum a ponto de ter alguém com um papel chamado “ScrumMaster”, os
impedimentos acima são os principais a serem combatidos por este profissional.
Mas aí eu pergunto: quantos ScrumMasters você conhece que estão se envolvendo
nos impedimentos organizacionais? quantos estão influenciando a Gestão para
conseguir mais apoio? Quantos estão trabalhando com as pessoas para reduzir a
resistência a mudanças, trazendo o cliente para dentro do projeto, ajudando
áreas resistentes a entender e se aproximar de Agile…quantos?
Infelizmente eu tenho visto
pouquíssimos, o que portanto me faz acreditar que grande parte dos
questionamentos em volta deste papel seja pelo fato de poucos ScrumMasters
estarem conseguindo fazer bem o seu trabalho. Portanto, a culpa é do
ScrumMaster, certo? Não necessariamente. Grande parte do problema tem sido o
fato das empresas não empoderarem este papel de forma adequada. Não estão
dando a ele a autonomia necessária para se envolver em questões organizacionais
que estão impactando aquele projeto.
O que tem faltado aos ScrumMasters?
Segundo Thiago Santos, que atua em papel equivalente ao de ScrumMaster
na R7.com, “Faltam mais habilidades humanas, relacionadas a
técnicas de facilitação, coaching e motivação de pessoas.”. Além disso, pelos
pontos citados no “State of Agile” podemos perceber claramente que falta aos
ScrumMasters investir no estudo de gestão e liderança, e ainda no conhecimento
organizacional. Se grande parte dos reais impedimentos estão fora do ambiente
de projeto e muitas vezes até fora de TI, um ScrumMaster que não conseguir
influenciar outras áreas da organização se tornará fraco.
Mas se a empresa (ou departamento/área)
não deu o nível de empoderação necessária ao ScrumMaster, é dever dele
influenciá-la para conseguir isto. “Os primeiros meses foram terríveis, para
praticamente todos os impedimentos que apareciam eu tinha que dar a resposta ‘Não
tenho como resolver, vou ter que escalar.’. Passei então a investigar porque
era tão difícil para a Gestão me dar autonomia, e comecei a ver que não era
chatisse ou necessidade de mostrar poder. Trabalhei então nos pontos que
descobri tentando mostrar ao PMO como poderiam ter a mesma ‘segurança’ ao me
dar um certo nível de autonomia em alguns pontos.”. diz Charles Bennini,
brasileiro que trabalha como ScrumMaster no Coutts Bank em
Londres.
ScrumMasters precisam ainda entender que em sistemas complexos a gestão é diferente do que estamos acostumados a ler nas cartilhas de “boa gestão”. Em sistemas complexos o conceito de auto-organização é natural, e portanto a gestão tem que ser focada no sistema e não no trabalho que as pessoas fazem ou deixam de fazer. Recentemente fiz o seguinte comentário no blog da Lambda3 em uma discussão relacionada à figura do gerente:
Basicamente minha mensagem é: novos gerentes devem esquecer a idéia de
gerenciar pessoas…e devem aprender a gerenciar sistemas, “apenas” isso. Uma
mudança difícil, mas com impactos radicais. Restrições são necessárias em
sistemas complexos – se não estes se tornam caóticos – e é aí onde entra a
figura dos “novos” gerentes.
[…]
No meu ponto, o gerente A gerencia X que é o sistema onde B, C, D, E trabalham o
sistema onde as pessoas trabalham, e não o trabalho das pessoas. Mas para
garantir que este sistema não caia na falácia da linearidade…e nem no caos; ele
precisa trabalhar com as restrições do ambiente, e para isso precisa trabalhar –
dentre outras coisas – com os fatores humanos (ufa…rs).
É um trabalho full-time?
É comum os livros de Scrum afirmarem que
um ScrumMaster deve ser um trabalho em tempo integral. Mas isso, na minha
opinião, só faz sentido se ele possuir (ou estiver em busca de) empoderação
suficiente para atuar em problemas que envolvam a estrutura da empresa, ou
seja, quando ele realmente assumir a figura de um agente de mudança, que na
verdade é o que esperamos dele. Mas caso isso não aconteça acho difícil
conseguir uma justificativa para mantê-lo em tempo integral, aí o natural vai
ser atribuir a ele novas responsabilidades e, comumente, dar a ele um outro
título. “Apesar de ser um trabalho em tempo integral, como o título ScrumMaster
não representava bem o papel, este passou a ser chamado de ‘Consultor de
Projetos’.” diz Thiago Santos da R7.com.
Além disso há ainda a situação de
empresas (ou times) pequenas, que possuem uma natural auto-organização e pouca
interrupção da cultura organizacional. É bastante comum nestes casos haver o
compartilhamento do papel de ScrumMaster com outras funções ou papéis.
O que um ScrumMaster deve estudar
É quase um consenso que o que mais tem
faltado aos ScrumMasters tem sido habilidades de gestão e liderança, “ScrumMasters
precisam de habilidades menos técnicas e mais interpessoais” afirma Milene
Fiorio, Especialista em Agile na Petrobras, que cita que na sua área
ScrumMasters são responsáveis por auxiliar os desenvolvedores e resolver os
impedimentos, e comumente fazem parte do próprio time de desenvolvimento.
“Logo após servir e dar coaching aos times [de desenvolvimento], os [Certified] ScrumMasters devem considerar servir e dar coaching aos gerentes e líderes da organização” escreveu Jurgen Appelo, autor do livro Management 3.0, no post “What Comes After Certified Scrum Master?”.
Para finalizar, minha recomendação de estudo para ScrumMasters está
concetrada em 03 pontos:
· Complexidade
Organizacional: Teoria da Complexidade, CAS – Complex Adaptive Systems, System
Thinking, o impacto da complexidade nas organizações, organizational design, …
· Gestão e liderança
em Sistemas Complexos: Management 3.0 (Leia Você sabe o que é Gestão
3.0?), Beyond Budgeting, Radical Leadership, …
· Relacionamento de Agile com: Governança de TI, Operações, Área de Negócios, e outras áreas e processos da organização.
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