Entrevista de Fidel Castro à extinta TV Manchete em 1986
Jornalista: Ao andar nas ruas de Havana, Fidel mostrou toda sua popularidade. Perguntei-lhe então, porque não fazer eleições diretas de vez em quando?
Fidel: Uma eleição do tipo direta, clássica? Sim, seria provável. O mais difícil seria convencer as pessoas que nos valêssemos deste tipo de sistema eleitoral. Porque, também, às vezes, esta eleição clássica, tradicional transforma-se num concurso de simpatia, não, realmente em um concurso de competência para governar, de honradez, de talento, senão para eleger o mais simpático, que tem mais capacidade de comunicar-se com as massas, quem tem, inclusive, a melhor presença, a melhor propaganda na televisão, no jornal, e no rádio. Como você sabe em alguns países latino americanos, que não quero mencionar, as campanhas eleitorais custam 400, 500 milhões de dólares, ao estilo norte-americano, com especialistas norte-americanos, que ensinam o candidato como deve se pentear, como se vestir, como se dirigir à população, o que deve e o que não deve dizer. Mas isso tudo é uma farsa, um teatro, na verdade…
Jornalista: Em uma Democracia Tradicional se tem que escolher as pessoas de uma maneira ou de outra.
Fidel: Claro. Muitas vezes concorrem aqueles que tem mais recursos econômicos para empregá-lo em propaganda. Os que têm maior acesso aos meios de comunicação de masa são os que alcançam a vitória eleitoral. Claro, não é só isso. Por exemplo: um candidato de oposição, em um desses países onde se alternam os partidos, e há crise econômica ou dificuldades, onde há mau governo, aí leva vantagem, mas essa não é, ainda, uma condição decisiva. Se este candidato de oposição não consegue mobilizar os recursos necessários à acionar os meios de comunicação de massa e, assim, realizar uma campanha, que os publicistas norte-americanos chamariam de campanha científica de publicidade, então pode perder as eleições. Essa é a realidade. Os resultados de uma eleição assim são muito distorcidos pela presença de uma série de fatores que não tem nada que ver com a capacidade do indivíduo que elegem para governar.
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